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O papel da televisão no Brasil
Enviado em 21/01/2007 - 09:15
Fonte: A A A A
Autor: Marçal Rogério Rizzo*
A sociedade atual, que se diz tão moderna e avançada, criou hábitos e costumes que tendem a torná-la uma sociedade cada vez mais desigual, consumista e fútil. Hoje o que vemos são pessoas buscando sua felicidade no ato do consumir. Sempre estão “carentes” por algo e nunca se sentem satisfeitas e felizes com o que possuem. É evidente que o Brasil é um país que tem um subconsumo, temos a mazela da desigualdade social nos assolando.
Entretanto, nosso artigo não está aqui para discutir os problemas socioeconômicos do Brasil, vem para tentar “levantar a lebre” sobre o papel da televisão em nosso dia-a-dia. Amigos e amigas, vocês já pensaram na força que a televisão tem? O que ela pode fazer com a cabeça das pessoas? Então vamos lá! Ela entra em nossas casas sem pedir licença e ainda nos faz dar atenção por horas e mais horas para o que ela está mostrando e falando. Aliás, nosso sagrado tempo, afinal a vida de todo mundo é corrida.
A televisão cria e destrói ídolos, basta vermos esses reality shows que escolhem pessoas e transformam as mesmas em heróis ou bandidos. E os políticos, aliás, grande parte dos maus políticos (não todos) possuem um canal de televisão e ali “nadam de braçada” mostrando para o povo o que mais lhes interessa. Há também os canais que não são nada imparciais, basta lembrarmos do namoro do Collor com canais de televisão, namoro que não virou casamento, mas sim uma separação cheia de confusões e brigas.
Dia desses assisti o programa “Observatório da Imprensa” na TV Cultura e um dos participantes, que não recordo o nome, disse algo que vem fazendo sentido. A concessão de canais é algo tão obscuro e utilizado de forma política pelo governo.
Os canais que deveriam ser para entretenimento e informação estão sendo usados de palanque político ou de altar religioso.
Penso que nesse artigo cabe falarmos da qualidade dos programas que entram em nossos lares. Grande parte da programação televisiva está inundada de programas sensacionalistas, que ficam falando de violência, de fofocas da vida de pessoas que se dizem artistas, de programas de auditório com brincadeiras ridículas ou então cozinhando o tempo todo. Até mesmo as novelas estão recheadas de propagandas e mostrando sempre um final ideal para aqueles que mais consomem.
Para piorar tudo, de um tempo pra cá surgiram os modelos enlatados de reality shows que são uma verdadeira apelaçãoàa inteligência humana. Por trás de toda aquela porcaria há uma forte campanha de marketing.
A televisão tenta criar pessoas padronizadas que só serão felizes se forem saradas, bonitas e se consumirem o máximo possível. Embute na cabeça dos telespectadores que o necessário é comprar, comprar e comprar.
A revista Ciência e Cultura publicação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), do trimestre abr/mai/jun. de 2006 traz o texto “Desligue a televisão!... para religá-la com mais critério e rigor” onde há dados de uma pesquisa interessante que confirma que até as crianças vem sendo “pegas” por essa máquina de moer cérebros. A pesquisa do Instituto Eurodata TV World Wide revela que as crianças brasileiras ficam 3 horas e meia diante da telinha recebendo um monte de informação ruim, onde as propagandas estão assediando-as a todo o momento. As empresas anunciantes já olham para as crianças como consumidores mirins que exigem dos pais a compra de determinados produtos. Para efeito de comparação a mesma pesquisa mostra que as crianças norte-americanas assistem televisão 3h16m, as indonésias 3h5m e as italianas 2h43m.
No mesmo texto a pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Gilda Girardello afirma que: “A indústria do entretenimento trata a criança como público-alvo consumidor e não como um cidadão em desenvolvimento”. Na verdade o que tem valor são as cifras monetárias e não a cidadania.
Outro texto que vem para contribuir com nossa discussão é “Ciência e TV: a união desejável” também publicado na revista Ciência e Cultura da SBPC (trimestre out/nov/dez de 2006) onde apresenta um estudo realizado pela pesquisadora e professora Marília Franco (ECA-USP) que como o próprio título do texto afirma é desejável ter mais programas voltados pra ciência na televisão. Esse tipo de programa fica restrito aos canais de assinatura e quando passam na televisão aberta os horários são inadequados, sempre bem cedo, isso faz com que sua audiência seja baixa e depois retirados do ar. Segundo a pesquisadora, programas científicos na televisão aberta incentivaria parte dos jovens a buscarem sua vocação para a ciência.
Outra informação interessante que consta nesse texto é que muitas vezes as matérias científicas são usadas de forma sensacionalista e como um apelo emocional.
Marília Franco atribui a várias causas dentre elas a má formação dos jornalistas, a poucos jornalistas especializados em ciência e, por fim, ao pouco tempo que é dado para as matérias de ciências, o que torna as matérias superficiais. Em breve teremos a TV digital e quem sabe isso muda, ou seja, melhore a programação.
Outro ponto que é discutido é a regulação na programação, mas falar em regular a programação esquenta o tom da discussão e os canais de televisão que exploram essa mediocridade alegam que isso é censura. Devemos lembrar que em países democráticos e desenvolvidos como França, Alemanha e Reino Unido existem órgãos com poder de sanção.
No caso do Brasil, não há nenhuma instância reguladora para cobrar das emissoras mudanças adequadas que garantam uma melhor qualidade na programação. Diante disso, temos que engolir “goela abaixo” essa programação recheada de mau gosto e venda de produtos e serviços. Finalmente, quem sabe se tivéssemos coragem de criar uma agência reguladora que funcionasse teríamos no futuro ganhos sociais imensuráveis.
Para encerrar fica uma frase da jornalista Denise Oliveira que foi extraída da revista da SBPC: “Como não existe entretenimento vazio de conteúdos, de idéias, é um grande equívoco pensar em crianças, ao assistir à TV, ao jogar videogame ou até mesmo ao praticar esportes, estejam apenas brincando”.
*Marçal Rogério Rizzo é Economista, Professor Universitário, Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Especialista em Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Mestre em Desenvolvimento Regional pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Fonte: www.artigos.com
Enviado por: brunohcs
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