Marion Andrea Strüssmann | www.dw-world.de | © Deutsche Welle.
A informação é da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) a partir de um estudo que analisa a pressão exercida naturalmente pelas línguas dominantes e a repressão política, apontadas como principais responsáveis pelo possível extermínio de cerca da metade dos 6500 idiomas falados em todo o mundo.
Tal redução pode causar sérios danos à riqueza lingüística mundial, conforme dados do relatório. O texto alerta que o desaparecimento de uma língua acarreta na perda definitiva de uma parte insubstituível do conhecimento humano. Em outras palavras, quando uma língua morre leva consigo a cultura do povo que praticava o idioma. E isso é irreversível.
Línguas dominantes x línguas minoritárias
A América e a Austrália estão na pior situação. Na Austrália, nos últimos 100 anos, foram extintas centenas de línguas aborígenes e outras tantas estão em processo de desaparecimento em decorrência das políticas de assimilação cultural em voga até a década de 70. O país prezava o idioma inglês como língua oficial em detrimento das línguas minoritárias.
Nos Estados Unidos, pelo menos 150 línguas indígenas, que conseguiram sobreviver à chegada dos europeus no continente alguns séculos atrás, estão agora ameaçadas de extinção. O mesmo acontece com muitas línguas ainda faladas pelos índios brasileiros.
Na Europa são faladas 230 línguas, enquanto no continente asiático são 2200. Na África, 550 línguas das 1,4 mil existentes poderão sumir em breve. O estudo cita ainda países como Japão, Filipinas e Papua Nova Guiné. Nesta região do Pacífico concentram-se atualmente um terço de todas as línguas faladas no mundo.
Os idiomas francês, espanhol, chinês e russo sufocaram as línguas minoritárias em seus países. A principal causa seria a globalização, que indiretamente padroniza o idioma de cada nação. Isso faz com que as línguas que não são oficiais acabem sendo pouco valorizadas e faladas por um número cada vez menor de pessoas.
Dialetos em extinção
Não apenas as línguas minoritárias estão ameaçadas de desaparecimento em várias partes do mundo. O dialeto, modalidade regional de uma língua, caracterizada por certas peculiaridades fonéticas, gramaticais ou léxicas, também segue o mesmo rumo em muitos países.
Na Alemanha ainda são falados diversos dialetos, especialmente em cidades do interior. O dialeto praticado, por exemplo, na Baviera, sul do país, é tão complexo e rico quanto o dialeto falado no norte da Alemanha. Prova disso é que a compreensão entre ambos é difícil. O elo de ligação é o alemão oficial.
De volta às raízes
São poucos os países que tem consciência da importância da preservação de línguas minoritárias. Um exemplo é a Irlanda. Nos séculos 17 e 18, com a ocupação inglesa, a língua galesa foi proibida de ser falada. Os irlandeses, entretanto, não se deixaram intimidar pela proibição e continuaram se comunicando às escondidas em galês.
Em 1921, a língua galesa voltou a ser aceita sem restrições e passou a ser ensinada nas escolas. A chamada Lei da Língua Galesa, de 1993, estimula a difusão do idioma, hoje falado por cerca de 19% da população.