A idéia de um jovem jogando videogame o dia inteiro pode ser o pesadelo de muitos pais. No entanto, essa mesma imagem passou a ser o sonho de muitos recrutadores de grandes empresas. O livro "Got Game?" publicado na Harvard Business School Press reuniu especialistas de mercado de trabalho em um perfil da geração de jogadores de videogame e sua inserção no mercado. No Brasil, aumenta o número das universidades com graduações relacionadas a videogames. Os alunos já são absorvidos pelo incipiente mercado de games brasileiro e em outras áreas da tecnologia.
O motivo da mudança está no perfil dos jogadores de videogame. Criativos, ousados e versáteis, a geração de jogadores adapta-se bem ao novo mundo corporativo, especialmente em empresas de investimento, consultoria e até biotecnologia. Os autores de "Got Game?" ressaltam apenas que "para aproveitar a habilidade que estes novos profissionais trazem, precisamos entender e aprovar os diferentes modos em que os jogadores pensam e se comportam". Ulisses Zago, especialista em carreiras da Genesis Consulting, já aprendeu a apreciar os fãs de videogames. "Quem tem mais afinidade com tecnologia, terá mais facilidades ao trabalhar e será mais produtivo", afirma Zago. "Em algumas organizações, inclusive a minha, não diria que este é um pré-requisito na seleção de um profissional, mas uma característica que sempre influencia positivamente na escolha do candidato", completa.
Mesmo quem gosta de videogames lembra, no entanto, que a inserção no mercado de trabalho depende também do perfil do jogador. "Simplesmente gostar de videogames não abre portas para ninguém, como qualquer outra habilidade, é preciso ter aprendido a fazer decisões, estar pronto a melhorar e evoluir sempre", conta Fábio Binder, coordenador da pós-graduação em games na Unicenp e professor da PUC-Rio. Binder desenvolveu um dos jogos mais famosos desenvolvidos no Brasil, o RPG Erinia.
Cercados de polêmica, os videogames sobreviveram a acusações como estimular a violência e prejudicar a formação educacional. De um jeito ou de outro, os jogos estão cada vez mais variados e classificados de acordo com a idade recomendada. Entender melhor a nova geração de jogadores implica também em despir-se de preconceitos. "Um candidato deve ser analisado completamente, de maneira analítica e não-preconceituosa, usar tatuagem não infere nos valores de um ser humano, assim como gostar de tecnologia por si só, não quer dizer nada", lembra Zago. "É preciso ir mais a fundo, ver o que o candidato gosta em tecnologia, e se gosta de jogar simplesmente por hábito ou por vício", conta o consultor.
Vencer no mercado de trabalho
"O desejo de vencer e ser incansável na busca do que se quer é o que leva os jogadores a chegarem onde quiserem, além disso, o videogame exige concentração, raciocínio rápido e persistência", conta ainda Fábio Binder. Desejo de vencer é uma das características mais importantes dos jogadores de acordo com pesquisas dos autores de "Got Game?". Na pesquisa envolvendo jogadores e não-jogadores, 12% a mais pessoas no grupo de jogadores afirmaram concordar com a frase "vencer é tudo" e 8% concordaram que "a competição é uma lei da natureza".
"O nível de sofisticação que os videogames atuais têm exigem que sejam desenvolvidas uma série de competências, como planejamento e gerenciamento de recursos, aprendizagem por tentativa e erro, habilidades de negociação", conta Victor Mirshawka, diretor da Faculdade de Computação e Informática da FAAP. O mundo dos jogos online ou multiplayer também é muito importante para a formação dos jovens, de acordo com o diretor. "Os jogadores formam verdadeiras comunidades em torno de um jogo, aprendem a comercializar e partilhar recursos e apreendem rapidamente conhecimento, manipulando e filtrando grandes volumes de informação".
"Há, realmente, muito mais mercado para trabalhar com videogames agora no Brasil do que há três anos atrás", conta Delmar Galisi, coordenador do curso de graduação em design de games da Universidade Anhembi Morumbi. Um dos motivos, de acordo com o professor, seria a criação da Abragames (Associação Brasileira dos Produtores de Games). O aumento das empresas que comercializam videogames é apenas uma das boas notícias em termos de oportunidades de trabalho para jogadores.
Os autores de "Got Game?" demonstram a utilização das habilidades dos jogadores em outros setores do mercado, tendo como exemplo empresas como RAND Corporation, Google e Charles Schwab & Co. Inc.."Nos Estados Unidos, os videogames estão sendo apontados como um sucesso maior do que a indústria cinematográfica mas, no Brasil, é o crescimento das empresas de games que está deixando o mercado bastante otimista, pois há várias opções de empregabilidade já que as empresa também costumam produzir tecnologia para celulares e internet", conta o coordenador Delmar Galisi.
Até os selecionadores estão adotando jogos para treinar e contratar funcionários para grandes corporações. "É uma forma de seleção cada vez mais utilizada mas pode causar stress a candidatos que não tenham afinidade com tecnologia", ressalta Ulisses Zago, da Genesis Consulting. De fato, a familiaridade com videogames pressupõe a proximidade à tecnologia, portanto, a um computador em casa. "O perfil do jogador de videogames, em termos sócio-econômicos, não é muito diferente do entusiasta por Ciência da Computação, temos alunos de baixa renda que se interessam pela área mas as condições financeiras ainda são uma barreira difícil de transpor, a solução é ter mecanismos como o Prouni, que permitam financiar a educação do jovem universitário e um melhor gerenciamento de recursos para se aproximar da tecnologia", diz Delmar Galisi, da Universidade Anhembi Morumbi.
Fonte: http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?materia=6339