Google, Microsoft e Cisco Systems defenderam hoje sua colaboração com a China, que censura a Internet e persegue os ciberdissidentes, durante debate sobre a liberdade de expressão no Fórum de Governança da Internet (FGI) em Vougliameni, Atenas (Grécia). Os gigantes da rede e os editores de programas informáticos, reunidos sob a égide da ONU neste subúrbio ateniense, junto de representantes dos Estados e da sociedade civil, defenderam a idéia de que negar seus serviços à China equivaleria a privar os chineses de todo acesso à Internet. "Nós chegamos à conclusão de que preferimos oferecer o máximo de informação aos chineses, apesar de que censuremos alguns elementos que o governo rejeita", disse Vint Cerf, um dos pais da Internet e atualmente vice-presidente do site de buscas Google. Apesar das restrições, "a Internet está transformando a face política da China", disse Fred Tipson, assessor da Microsoft. Ao contrário, os defensores da liberdade de expressão denunciaram a autocensura dos operadores de portais de acesso à Internet na China, afirmando que além disso as autoridades chinesas compravam programas estrangeiros para controlar a rede. "Atualmente, só China e Irã bloqueiam o acesso ao nosso site porque seu conteúdo não lhes agrada", afirmou Richard Sambrook, diretor de informação da emissora britânica BBC. Um representante da ONG francesa defensora da liberdade de imprensa, Repórteres sem Fronteiras (RSF), acusou a Cisco Systems de ter diretamente "vendido material à polícia chinesa". "Nós vendemos o mesmo a todos os países, não fazemos nada que permita que um governo filtre" a informação, respondeu Art Reilly, diretor estratégico da empresa. Diante de novas perguntas, respondeu: "não estou a par da venda de um produto na China, seja qual for". Diante de delegados majoritariamente hostis a seus argumentos, Fred Tipson chegou a defender a Yahoo! - nenhum de cujos representantes assistiu ao debate -, acusado de ter colaborado com a polícia chinesa para a detenção de um dissidente. "O Yahoo! tem uma equipe na China. Se eles tivessem se negado a cooperar, todos teriam sido presos e expulsos (...). Mas o Yahoo! não sabia que se tratava de um jornalista e que corria o risco de ser encarcerado", explicou. As grandes companhias reiteraram que, em um mercado muito competitivo, não podem se permitir abrir mão da China, que só tem 130 milhões de internautas em uma população de 1,4 bilhão. "Nós agimos em um espaço extremamente competitivo. Se não oferecermos às pessoas o que nos pedem, o buscarão em outro lado", afirmou Vint Cerf. Um proeminente funcionário chinês nas Nações Unidas, em Genebra, que fez uso da palavra ao fim da discussão, informou que parecia "lamentável" que a China esteja no centro de um debate sobre a liberdade de expressão. Segundo ele, seu governo não impõe "nenhuma restrição" à rede. |